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sábado, 15 de agosto de 2009

classificação das cantigas



Com base na maioria das cantigas reunidas nos cancioneiros, podemos classificá-las da seguinte forma:
Gênero lírico
- Cantigas de amor
- Cantigas de amigo
Gênero satírico
- Cantigas de escárnio
- Cantigas de maldizer


A cantiga de amor

O cavalheiro se dirige à mulher amada como uma figura idealizada, distante. O poeta, na posição de fiel vassalo, se põe a serviço de sua senhora, dama da corte, tornando esse amor um objeto de sonho, distante, impossível.
Neste tipo de cantiga, originária de Provença, no sul de França, o eu-lírico é masculino e sofredor. Sua amada é chamada de senhor (as palavras terminadas em or como senhor ou pastor, em galego-português não tinham feminino). Canta as qualidades de seu amor, a "minha senhor", a quem ele trata como superior revelando sua condição hierárquica. Ele canta a dor de amar e está sempre acometido da "coita", palavra frequente nas cantigas de amor que significa "sofrimento por amor". É à sua amada que se submete e "presta serviço", por isso espera benefício (referido como o bem nas trovas).
Essa relação amorosa vertical é chamada "vassalagem amorosa", pois reproduz as relações dos vassalos com os seus senhores feudais. Sua estrutura é mais sofisticada. Existem dois tipos de cantigas de amor: as de refrão e as de mestria, que não tem refrão.

Exemplo de lírica galego-portuguesa (de Bernal de Bonaval):

"A dona que eu tenho am'e pelo Senhor amostrade-a-me Deus, você está no por prazer, é não-Dade-me à morte. Para tenh'eu por lume d'estes olhos meus Chora e sempre (e) amostrade-a-me Deus, é não-Dade-me à morte. Essa fezestes melhor que se parecem Quanta sei, oh Deus, fazede veer-a-me, é não-Dade-me à morte. Oh Deus, eu ca-fezestes um min, mas o amor, mostrade-me-um ser humano possa falar com ela, é não-Dade-me à morte. "

Eu lírico masculino.
Ausência do paralelismo de par de estrofes e do leixa-pren.
Predomínio das idéias.
Assunto Principal: o sofrimento amoroso do eu-lírico perante uma mulher idealizada e distante.
Amor cortês; convencionalismo amoroso.
Amor impossível.
Ambientação aristocrática das cortes.
Forte influência provençal.
Vassalagem amorosa "o eu lírico usa o pronome de tratamento "senhor"".

A cantiga de amigo

São cantigas de origem popular, com marcas evidentes da literatura oral (reiterações, paralelismo, refrão, estribilho), recursos esses próprios dos textos para serem cantados e que propiciam facilidade na memorização. Esses recursos são utilizados, ainda hoje, nas canções populares.
Este tipo de cantiga, que não surgiu em Provença como as outras, teve suas origens na Península Ibérica. Nela, o eu-lírico é uma mulher (mas o autor era masculino, devido à sociedade feudal e o restrito acesso ao conhecimento da época), que canta seu amor pelo amigo (amigo = namorado), muitas vezes em ambiente natural, e muitas vezes também em diálogo com sua mãe ou suas amigas. A figura feminina que as cantigas de amigo desenham é, pois, a da jovem que se inicia no universo do amor, por vezes lamentando a ausência do amado, por vezes cantando a sua alegria pelo próximo encontro. Outra diferença da cantiga de amor, é que nela não há a relação Suserano x Vassalo, ela é uma mulher do povo. Muitas vezes tal cantiga também revelava a tristeza da mulher, pela ida de seu amado à guerra.

Exemplo (de D. Dinis)

"Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
ai Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo!
ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado!
ai Deus, e u é?"
(...)

Eu lírico feminino.
Presença de paralelismos.
Predomínio da musicalidade.
Assunto Principal: o lamento da moça cujo namorado partiu.
Amor natural e espontâneo.
Amor possível.
Ambientação popular rural ou urbana.
Influência da tradição oral ibérica.
Deus é o elemento mais importante do poema.
Pouca subjetividade.

A cantiga de escárnio

Na cantiga de escárnio, o eu-lírico faz uma sátira a alguma pessoa. Essa sátira era indireta, cheia de duplos sentidos. As cantigas de escárnio (ou "de escarnho", na grafia da época) definem-se, pois, como sendo aquelas feitas pelos trovadores para dizer mal de alguém, por meio de ambigüidades, trocadilhos e jogos semânticos, num processo que os trovadores chamavam "equívoco". O cômico que caracteriza essas cantigas é predominantemente verbal, dependente, portanto, do emprego de recursos retóricos. A cantiga de escárnio exigindo unicamente a alusão indireta e velada, para que o destinatário não seja reconhecido, estimula a imaginação do poeta e sugere-lhe uma expressão irônica, embora, por vezes, bastante mordaz

Ai, dona fea, foste-vos queixar que vos nunca louv[o] em meu cantar; mais ora quero fazer um cantar em que vos loarei toda via; e vedes como vos quero loar: dona fea, velha e sandia!... (...)


Crítica indireta; normalmente a pessoa satirizada não é identificada.
Linguagem trabalhada, cheia de sutilezas, trocadilho e ambiguidades
Ironia

A cantiga de maldizer

Ao contrário da cantiga de escárnio, a cantiga de maldizer traz uma sátira direta e sem duplos sentidos. É comum a agressão verbal à pessoa satirizada, e muitas vezes, são utilizados até palavrões. O nome da pessoa satirizada pode ou não ser revelado.


Exemplo de cantiga Joan Garcia de Guilhade

"Ai dona fea! Foste-vos queixar
Que vos nunca louv'en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei toda via;
E vedes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!
Ai dona fea! Se Deus mi pardon!
E pois havedes tan gran coraçon
Que vos eu loe en esta razon,
Vos quero já loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
En meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora já en bom cantar farei
En que vos loarei toda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!"

Este texto é enquadrado como cantiga de escárnio já que a sátira é indireta e não cita-se o nome da pessoa especifica. Mas, se o nome fosse citado ela seria uma Cantiga de Maldizer, pois contém todas as características diretas como sátira da "Dona". Existe a suposição que Joan Garcia escreveu a cantiga anterior uma senhora que reclamava por ele não ter escrito nada em homenagem a ela. Joan Garcia de tanto ouvi-lá dizer, teria produzido a cantiga.

Raissa da Silva

2 comentários:

  1. otimo amei as cantigas de amor .........tem essa tambem acho linda

    "Tam grave dia que vos conhoci ,

    por quanto mal me vem por vós , senhor !

    ca(1) me ven coita , nunca vi mayor ,

    sen outro ben, por vós , senhor , des i (2)

    por este mal que mh'a mim por vós ven ,

    come se fosse bem , ven-me por em

    gran mal a quem nunca o mereci .



    Ca , mha senhor , porque vos eu servi ,

    sempre digo que sode'la(3) milhor

    do mund'e trobo polo (4) vosso amor ,

    que me fazedes gram ben e assy

    veed'ora(5) mha senhor do bon sen , (6)

    este bem tal se compre (7) en mi rrem (8) ,

    senon , se valedes vós mays per y (9) .

    Mais eu , senhor , en mal dia naci .

    del que non tem , nem é conhecedor

    do vosso bem , a que non fez valor

    Deus de lho dar , que lhy fezo bem y ,

    per, (10) senhor , assy me venha bem ,

    deste gram bem , que el (11) por ben non tem ,

    muy poyco del seria grand'a mi .



    Poys, mha senhor , rrazon é , quand'alguen

    serv'e non pede , já que rem lhi den ;

    eu sservi sempr'e nunca vos pedi. "

    (D. Afonso Sanches )

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